Tenho que vos dizer, que sou fã incondicional do programa "Plano Inclinado", pela primeira vez em Portugal assiste-se a um programa em que de facto se tiram conclusões através da análise sistemática da realidade, é para mim e para muitos portugueses um momento de tomada de consciência, é quase um momento de psiquiatria colectiva perante uma doença que nos tem afectado. A doença a que me refiro é a positvice , ou seja, o dizer que sim a tudo como se de um processo condicionado se tratasse. Assisti a este movimento se iniciar em Portugal com o Engenheiro António Guterres e é curioso analisar que o mesmo se passou no Reino Unido com Tony Blair. Ambos foram projectos baseados em personalidades extremamente comunicativas e cativantes e curioso ver que os resultados podem ser considerados semelhantes, contudo, com consequências bastante diferentes, pois comparar a economia portuguesa à do Reino Unido apenas pode ser feita se estivermos perante um simples acto de desonestidade intelectual. Mas a verdade é que assistimos a um consequente movimento a favor do dizer que sim, só pelo facto de o dizer, como se fosse apenas necessária a atitude irreflectida para que tudo fosse cada vez melhor. Chamo a atenção para o facto que até esta expressão " cada vez melhor" e por vezes "cada vez mais", terem sido incessantemente repetidas até à exaustão por todos os representantes da técnocracia. O curioso é assinalar que estas expressões passaram para qualquer programa televisivo, em todas as entrevistas, fomos intencionalmente motivados a achar que tudo seria melhor, que o futuro seria cada vez melhor, com cada vez mais oportunidades, que seria positivo. Claramente foi fazer uso da dificuldade natural das pessoas dizerem não, ou seja, a negação da negação como processo de alinhar toda uma população a aceitar um propósito pré determinado. Ainda me recordo das músicas épicas dos Vangelis que incendiavam atitudes pró "progresso", das cores garridas e apelativas do Partido Socialista em contraposição com cores mais sóbrias do Partido Social Democrata. Quem não se recorda disto? Eu digo que só mesmo quem não quiser recordar, pois são realidades ainda bem presentes. Mas estava eu a falar do plano inclinado, que em minha opinião representa um pequeno antídoto para esta cruel realidade que se abateu sobre nós. E o que mais temo é que a situação nos leve a dizer que não só pelo simples facto de termos estado habituados a dizer o sim. No último programa a que assisti, convidaram o presidente da Confederação dos Agricultores Portugueses, e para lá das informações horripilantes a que fomos submetidos, eis que um facto emergiu da discussão. O Ministério da Agricultura para fiscalizar e coordenar o que se passa efectivamente no sector gasta 400 milhões de Euros, tendo para financiar os projectos própriamente ditos 100 milhões de euros. Sim meus amigos, é uma informação dantesca, andamos nós a falar de como pagar os juros da dívida e perante nós temos um exemplo cabal do problema, o estado é o problema. As autarquias são um problema, o país tornou-se ele próprio um problema. Como resolver isto? Muita coragem política vai ser necessária, mas o que nos pode aliviar é o facto de querendo ou não, quem quer que seja que tome o poder vai ter mesmo de resolver a situação, só espero, que definitivamente, pois que não é possível tornar-se mais claro que a situação não é sustentável, aliás, ela ultrapassou o ponto de retorno, a situação em Portugal tem outra denominação, e para mim ela é simples e directa é putrefacta.
"A inclinação do programa "Plano Inclinado" é tal, que se não tivermos cuidado ainda caímos pela janela." Fernando Miguel Soares
"A inclinação do programa "Plano Inclinado" é tal, que se não tivermos cuidado ainda caímos pela janela." Fernando Miguel Soares