quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O Reino do Umbigo

Tenho de confessar que a situação actual do meu país não me espanta em nada, isto porque só mesmo quem não queria ver poderia alguma vez pensar que os padrões de "riqueza" exibidos seriam de todo sustentáveis. Sou da opinião de que as pessoas começam a ter uma noção do abismo que têm pela frente, no entanto, tenho sérias dúvidas que tenham a noção da sua profundidade.
Para além do nosso sentido de pertença que temos ao nosso país, continuo a achar que ainda temos de percorrer mais uma distância para entender o que é um país no sentido político, porque, a incessante procura do "reino do umbigo" teve como resultado o que era esperado, quem olha para o umbigo perde obivamente a noção do que o rodeia, é por mais evidente que em qualquer sociedade democrática os interesses fazem parte do cenário, mas, convenhamos que não podem ser o guião.
Agora que provavelmente teremos de passar novamente pela vergonha de sermos governados pelo FMI, a verdade é que não vemos nada do que é essencial ser posto em causa, os senhores do poder continuam a não querer desmantelar o que se criou e por mais que se queira esconder, o corporativismo em Portugal esteve e está punjante. Considero incrível que os responsáveis seja da saúde, da educação, da segurança ou da justiça, começem sempre por falar das condições laborais, do que da qualidade dos serviços prestados aos cidadãos; Considero aberrante que se considere essencial para os serviços estarem bem instalados com as melhores condições possíveis, do que considerar a celeridade e qualidade na prestação desses mesmos serviços aos utentes. Que mundo invertido é este? Não estaremos nós perante uma despudorada explicação da existência de uma vil "cadeia alimentar"?
O mais grave, é que na "cadeia alimentar" consumiu-se o futuro de pelo menos duas gerações; Será que valeu a pena? Houve quem dissesse que "Tudo vale a pena quando a alma não é pequena", mas o problema é que parece que de facto a alma para além de pequena foi maliciosa, incompetente, inconsequente e irresponsável. E agora? Que caminho iremos trilhar? Com quantas armadilhas nos teremos de confrontar? Com quantos contractos ruinosos nos teremos de conformar? No fim para que é que isto serviu? A quem serviu isto? As respostas terão de ser dadas ao longo do caminho, mas façamos um esforço para esquecer o umbigo e olhar em frente, sabendo com o grau de exactidão possível para onde nos dirigimos. Porque onde estamos hoje nós sabemos, estamos à porta da sopa dos pobres, mas, façamos um esforço para não sermos pobres de espírito, porque, duvido muito que dessa forma possamos proporcionar o futuro que as gerações mais novas merecem. Já que a minha geração vai ter de se conformar com o resultado. Pagar pelo menos os juros.

"Manuel Alegre diz que é um crime o que se está a fazer, e eu digo que foi um crime o que se fez" Fernando Miguel Soares

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