quinta-feira, 28 de abril de 2011

Comemorar Abril, perspectivar o futuro...


Comemora-se hoje o trigésimo sétimo aniversário da revolução de Abril, momento fundador do Portugal moderno. Comemorar Abril, é comemorar a emancipação dos homens e mulheres desta nação, é comemorar a liberdade, a democracia, a República.
É comemorar princípios e valores fundamentais, como o respeito, a compaixão, a solidariedade, a civilidade, a tolerância!
Com Abril iniciou-se um projecto social em linha com a realidade europeia a que sempre pertencemos, foi erguido o estado social, símbolo da dignificação da condição humana, instrumento fomentador do princípio da igualdade, motor de esperança e suporte essencial para uma forte coesão social.
A democracia instituída em Abril, trouxe aos portugueses direitos económicos e sociais que nos elevaram a um novo patamar de desenvolvimento, no entanto, perante a situação actual muitas das conquistas de Abril estão claramente postas em causa, sendo necessário, que se encete um debate nacional profundo, despido de chavões e frases feitas, e de pequena luta politiqueira pois certamente os portugueses irão querer saber sem questões nem artifícios o porquê de termos chegado até aqui.
A desacreditação generalizada da política e dos seus intervenientes é dos sinais mais preocupantes de que a sociedade portuguesa padece, pois que os partidos políticos são essenciais à democracia e o claro afastamento dos portugueses face aos mesmos é um sinal de um absentismo cívico onde provavelmente se encontra a raiz do problema.
 Durante anos foi propagada a mensagem de que as ideologias tinham morrido, de que não havia diferença entre ser de esquerda, do centro ou de direita, de que havia enfim uma solução única, como se fosse possível acreditar que na vida não temos visões diferentes, objectivos diferentes e consequentemente valores também eles diversos. E acima de tudo resultados diferentes.
Tem-se vivido num conceito político de dizer aos eleitores aquilo que eles querem ouvir e não a verdade concreta das situações, tem-se tido preocupações exacerbadas em relação à forma e não ao conteúdo da mensagem. Portugal tem sido governado como se de um retalho se tratasse, como se de quintas corporativas fosse composto. Portugal é uno, dos poucos estados nação da Europa com as fronteiras terrestres mais antigas do continente.
Também há que apontar outras razões para a situação que se vive em Portugal, há verdadeiramente uma crise de valores, há que retornar à simplicidade, ela é a chave para que se possa encontrar um desígnio colectivo. A situação a que chegamos e à qual garanto que muitos aqui presentes ainda não tem consciência da sua magnitude, foi desencadeada por essa mesma crise de valores.
Não é possível que um país possa progredir sem produzir, não é possível acreditar que o Estado possa ser a tábua de salvação para todos. Não é possível que por um lado se defenda o estado social e a igualdade de oportunidades para todos os cidadãos e por outro lado agir em sentido contrário, fazendo e tomando decisões políticas que põem em causa a sustentabilidade dos mais básicos direitos que todos acreditavam terem sido já conquistados. Quem promete o sol e a lua pode sempre fazê-lo, mas da mesma forma garanto, que a quem foi prometido jamais será entregue.
            Na última década quem dizia não, era imediatamente apelidado de pessimista, quem dizia não, não era positivo, como se dizer que sim a tudo sem pensar pudesse ser uma atitude louvável nas nossas vidas. Tem de existir forçosamente um ponto de partida em que tudo é discutível, que tudo necessita de ser avaliado, que tudo tem de ser efectivamente um benefício concreto e regrado para a sociedade.
A chamada crise internacional que se iniciou em 2008 é de facto uma crise sem precedentes, sendo ela a primeira grave convulsão dos efeitos do movimento da globalização. Mas sejamos francos, a crise internacional não foi o factor que desencadeou a nossa crise interna, a nossa crise é uma crise de endividamento e de incapacidade de crescer economicamente. A crise já estava instalada, a crise internacional apenas a veio colocar a nu.
Existem em Portugal mais de meio milhão de desempregados, a segurança social vive uma grave crise de tesouraria, existem inúmeras famílias portuguesas a passar fome. Para nós, isto é algo com que não nos conformamos, tem de existir um movimento social para suprir essas dificuldades, teremos de acordar o que de melhor temos, as nossas melhores características como povo. Os portugueses sempre souberam demonstrar a sua fibra nas mais amargas situações e penso que se todos nos juntarmos poderemos colmatar as mais básicas necessidades. Pelo país de norte a sul muitas instituições de solidariedade social trabalham incessantemente para matar a fome a muita gente, façamos delas o ponto de encontro da nossa ajuda.
O sonho de um Portugal livre e verdadeiramente próspero tem sido adiado, as soluções que Portugal precisa para cumprir o seu desígnio já estão delineadas há mais de 30 anos, muitos portugueses de todos os quadrantes políticos têm sido verdadeiros D. Quixote a lutar contra moinhos de vento. Alguns até já nem se encontram entre nós. Está na altura de lhes dar ouvidos e de exigir que se promovam sem demoras as políticas correctas que possam de uma vez por todas iniciar o crescimento económico que dará a possibilidade de resolver o problema do desemprego, e que nos possibilite cumprir com  os nossos compromissos externos.
 Todos sabemos que um dos problemas económicos do país para além do tamanho exacerbado do estado, é o nosso desequilíbrio da balança comercial e a nossa insuficiência na produção alimentar. Como portugueses, temos o dever de tentar por todos os meios consumir preferencialmente produtos de origem nacional. O poder do consumo é o mais importante poder que neste momento cada cidadão tem, a par do seu voto e da sua participação política na vida da comunidade.
Deixamos aqui também uma mensagem de apelo ao voluntariado, a quem está reformado ou a quem dispõe de tempo, que se aproxime das instituições de solidariedade social de forma a poder ajudar nas mais diversas tarefas.
A nível regional e local não poderemos esquecer de que o Algarve e Lagos terão um papel indispensável na retoma da economia. Caros concidadãos, será fulcral e essencial a dinamização e a maximização dos efeitos positivos da mais importante indústria de captação de capitais externos que temos. De uma vez por todas, o Estado e as Autarquias têm de tratar o turismo como uma verdadeira indústria dando-lhe condições efectivas de promoção a nível externo.
A nível autárquico, o correcto planeamento a nível urbanístico  é um factor essencial por forma a incrementar um modelo de qualidade a quem nos visita. É inadmissível que este município esteja há mais de uma década sem plano director municipal e com um centro histórico por reabilitar e ordenar. Tal facto retira-nos competitividade e capacidade para a captação de investimentos.
Em suma hoje Portugal e o mundo estão muito diferentes, e essa diferença trará consigo novos métodos a aplicar nas soluções dos problemas. Com toda a normalidade os democratas acentuam as suas diferenças sendo estas colmatadas no desígnio que é Portugal. Assumimos o compromisso de tudo fazer para encontrar as soluções necessárias à resolução das dificuldades com que nos deparamos, é esta a função mais nobre que um Partido Político pode desempenhar.
 Todos temos de aceitar a nossa condição de cidadãos de Portugal, e só o conseguiremos, tendo a verdadeira noção da realidade que enfrentamos  para a podermos superar como comunidade.

Portugal não pode parar!

Viva Portugal!

 Discurso proferido pelo líder de bancada da Assembleia Municipal de Lagos do Partido Social Democrata, Dr. Nuno Serafim, na sessão comemorativa do XXXVII aniversário do 25 de Abril de 1974.

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